lunes, mayo 29, 2006

El escritor angoleño Luandino Vieira rechaza los cien mil euros del Premio Camoes.




La decisión del escritor angoleño Luandino Vieira es inédita en la historia del Premio Camoes, instituido en 1988 y considerado el de mayor prestigio y el mejor dotado de los concursos literarios en lengua portuguesa. Razones “personales e íntimas” motivaron su decisión, según declaró al serle anunciada la noticia.

Redacción Actualidad Literaria

Informa Agencia Lusa

El escultor portugués José Rodriguez, amigo del autor, justificó su decisión alegando que el escritor vive “completamente al margen de los bienes materiales”. Vieira vive desde hace una década en un monasterio cercano a la ciudad portuguesa de Vila Nova de Cerveira, donde reside su “enamorada”.

“Luandino tiene un mundo muy propio, y por eso su reacción no me sorprende. La única cosa que me sorprendería es que dejase de escribir, pero tengo la seguridad de que eso no va a suceder”, declaró Rodriguez.

Desde que fue anunciado como ganador del premio, Luandino Vieira no contesta a su teléfono particular.

Portavoces del Ministerio de Cultura de Portugal, encargados junto a sus homólogos brasileros de la organización del certamen, afirmaron que las bases del Premio no contemplan esta situación, y tendrán que decidir, por tanto, qué hacen con el dinero.

Natural de Vila Nova de Ourém, donde nació en 1935, Luandino Vieira emigró al país africano con su familia siendo aún niño. Participó del movimiento por la independencia de Angola y por su militancia fue condenado a catorce años de prisión por la dictadura de Salazar. Pasó ocho años en un campo de concentración del que fue liberado en 1972.

En la actualidad el autor prepara la segunda novela de su trilogía "De rios velhos e guerrilheiros", cuya primera entrega, "O livro dos rios", saldrá a la venta este mismo año.

Entre los premiados con el Camoes figuran los literatos portugueses Miguel Torga, José Saramago, Sophia de Mello Breyner, Eugénio de Andrade y Agustina Bessa-Luís, así como los autores brasileños Joao Cabral de Melo Neto, Jorge Amado, Rubem Fonseca y Lygia Fagundes Telles.

Biografía:

José Luandino Vieira, nascido na Lagoa do Furadouro (Portugal) em 4 de Maio de 1935 é cidadão angolano pela sua participação no movimento de libertação nacional e contribuição no nascimento da República Popular de Angola. Passou toda a infância e juventude em Luanda onde frequentou e terminou o ensino secundário. Trabalhou em diversas profissões até ser preso em 1959 (Processo dos 50), é depois libertado e posteriormente (1961) de novo preso e condenado a 14 anos de prisão e medidas de segurança. Transferido, em 1954, para o Campo de Concentração do Tarrafal, onde passou 8 anos, foi libertado em 1972, em regime de residência vigiada em Lisboa. Iniciou então a publicação da sua obra na grande maioria escrita nas diversas prisões por onde passou.

Depois da Independência foi nomeado para a Televisão Popular de Angola, que organizou e dirigiu de 1975 a 1978; para o D. O. R. (Departamento de Orientação Revolucionária do MPLA) que dirigiu até 1979; para o I. A. C. (Instituto Angolano de Cinema) que organizou e dirigiu de 1979 a 1984.

Membro fundador da União dos Escritores Angolanos exerceu a função de Secretário-Geral desde a sua fundação – 10-12-1975 – até 31-12-1980.

Foi Secretário-Geral Adjunto da Associação dos Escritores Afroasiáticos, de 1979 a 1984; e de novo Secretário-Geral da União dos Escritores Angolanos, de 1985 a 1992.
Após o colapso das 1.ªs eleições em 1992 e do recrudescimento da guerra civil, abandonou a vida pública, dedicando-se unicamente à literatura.

Bibliografía:

Nosso Musseque

A Vida Verdadeira de Domingos Xavier

Nós, os do Makulusu

João Vêncio: os Seus Amores

Luuanda

No Antigamente, na Vida

Macandumba

Velhas Estórias

A Cidade e a Infância (contos)

Vidas Novas (contos)

Velhas Estórias (estórias)

Lourentinho, Dona Antónia de Sousa Neto & Eu (estórias)

Poemas de Luandino Vieira:

Estrada

Luanda Dondo vão,
cento e tal quilômetros
mangas e cajus
marcos brancos
meninos nus

Branco algodão
crescendo
corpos negros
na cacimba

O Lucala corre
confiante
indiferente à ponte que ignora

Verdes matas
Sangram vermelhas acácias
imbondeiros festejam
o minuto da flor anual

Na estrada
o rebanho alinha
pelo verde
verde capim

Adivinhados
caqui lacraus
de capacete giz
trazem a morte

Meninos
se embalam
em mães velhas
de varizes:

Rios azuis
da longa estrada

E é fevereiro
sardões as sol
Cassoalala

Eia Mucoso
tão cheio agora
Adivinhados
permanecem
lacraus caqui
capacetes giz

Não param as colheitas

Que razão seriam
fevereiro
acácias sangrando vermelho
verdes sisais
cantando o parto
da única flor?

Não param as colheitas!

(No reino de Caliban II - antologia
panorâmica de poesia africana de ex-
pressão portuguesa)

Canção para Luanda

A pergunta no ar
no mar
na boca de todos nos:
- Luanda onde está?

Silêncio nas ruas
Silêncio nas bocas
Silêncio nos olhos

- Xê
mana Rosa peixeira
responde?

- Mano
Não pode responder
tem de vender
correr a cidade
se quer comer!

"Ola almoço, ola almoçoéé
matona calapau
ji ferrera ji ferrerééé"

- E você
mana Maria quitandeira
vendendo maboque
os seios-maboque
gritando
saltando
os pés percorrendo
caminhos vermelhos
de todos os dias?
"maboque, m"boquinha boa
dóce dócinha"

- Mano
não pode responder
o tempo é pequeno
para vender!

Zefa mulata
o corpo vendido
batom nos lábios
os brincos de lata
sorri
abrindo o seu corpo
- seu corpo-cubata!
Seu corpo vendido
viajado
de noite e de dia.
- Luanda onde está?

Mana Zefa mulata
o corpo-cubata
os brincos de lata
vai-se deitar
com quem lhe pagar
- precisa comer!

- Mano dos jornais
Luanda onde está?
As casa antigas
o barro vermelho
as nossas cantigas
trator derrubou?

Meninos das ruas
caçambulas
quigosas
brincadeiras minhas e tuas
asfalto matou?

- Manos
Rosa peixeira
quitandeira Maria
você também
Zefa mulata
dos brincos de lata
- Luanda onde está?

Sorrindo
as quindas no chão
laranjas e peixe
maboque docinho
a esperança nos olhos
a certeza nas mãos
mana Rosa peixeira
quitandeira Maria
Zefa mulata
- os panos pintados
garridos
caídos
mostraram o coração:
- Luanda está aqui!

(No reino de Caliban II - antologia
panorâmica de poesia africana de ex-
pressão portuguesa)

Sons

A guitarra
é som antepassado

Partiram-se as cordas
esticadas pela vida.

Chorei fado.

Que importa hoje
se o recuso:

o ngoma é o som adivinhado

(No reino de Caliban II - antologia
panorâmica de poesia africana de ex-
pressão portuguesa)