domingo, junio 12, 2005

É morto Vasco Gonçalves



Calou-se a voz do general que deu nome ao gonçalvismo
Período REvolucionário General foi uma figura controversa do período revolucionário do pós-25 de Abril Combateu a ditadura e participou no Movimento das Forças Armadas
fotos: alfredo cunha
Depois de passar à reserva, o antigo primeiro-ministro participou em diversas conferências


Vasco Gonçalves, general na reserva tinha 83 anos e morreu, ontem, quando nadava numa piscina em Almancil, Algarve, em casa de um irmão. Foi primeiro-ministro nos II, III, IV e V governos provisórios, em 1974 e 1975, e uma das figuras mais marcantes do período revolucionário que se seguiu ao do 25 de Abril. O corpo foi transportado de Faro para Lisboa, num veículo militar, para ser velado na igreja da Academia Militar. À hora de fecho desta edição, ainda se desconheciam a hora e o local do funeral.

O "companheiro Vasco", como era aclamado nas manifestações de rua no "Verão Quente" de 1975, foi uma das personalidades que mais dividiu opiniões, entre ódios e paixões, mas há unanimidade ao falar-se do seu carácter generoso. O seu nome surgiu nas manifestações e comícios populares do chamado PREC (Período Revolucionário em Curso) em "slogans" como "força, força, companheiro Vasco, nós seremos a muralha de aço", que até deu origem a uma canção.

O combate aos monopólios e aos latifúndios, a nacionalização da Banca e a introdução do 13.º mês foram algumas das decisões que ficaram ligadas ao "gonçalvismo", como ficou conhecido o período em que governou.

Vasco dos Santos Gonçalves encontrava-se na reserva desde 15 de Dezembro de 1975. Oriundo da Arma de Engenharia, a oposição do general Vasco Gonçalves ao salazarismo é referenciada nos anos 50 e nos primórdios do "Movimento dos Capitães", que haveria de culminar, a 25 de Abril de 1974, no derrube da ditadura, tendo sido um dos poucos oficiais superiores a apoiar os mais jovens militares. Seria, mais tarde, o oficial de mais elevada patente na Comissão Coordenadora do Programa do Movimento das Forças Armadas (MFA).

Assumindo-se sempre como "um representante do MFA no Governo" enquanto ocupou as cadeiras do Poder, Vasco Gonçalves - acusado pelos seus opositores de ser próximo do PCP - acabaria por ser afastado sob a acusação genérica de incumprimento do ideário do MFA.

Não se considerou, no entanto, um homem vencido, manifestando sempre a vontade e a determinação de "continuar a lutar". Nas várias entrevistas e conferências que deu até há pouco tempo, disse sempre que Portugal seria muito melhor se tivessem prevalecido as ideias socializantes que defendeu e que considerou inseparáveis da democracia. "Não sendo um homem de partido, Vasco Gonçalves adquiriu muito cedo um conhecimento dos clássicos do marxismo que lhe proporcionou uma compreensão científica da História que, na prática da vida militar, se traduzia numa consciência da necessidade de formar homens responsáveis e num sentimento de solidariedade com o seu povo, vítima com os das colónias de um sistema monstruoso", escreveu o historiador Miguel Urbano Rodrigues, c itado pela agência Lusa.

Frases

Ou se está com a Revolução ou se está com a reacção, Aqui não há terceiras vias"

No meu entender, Mário Soares encabeçou a parte civil da contra-revolução"

Está à vista de todos, Paulo Portas, Celeste Cardona e Bagão Félix são de Extrema-Direita"Todas as eleições em Portugal têm sido legais. Existe, portanto, essa fachada democrática"

Isto é uma sociedade de barbárie. Existe uma alternativa para o Homem, mas a maioria das pessoas não compreendeu ainda que a alternativa é entre a barbárie e o socialismo"