obitu�rio
Vasco Gon�alves militar e ex-primeiro-ministro
"N�o imagino a minha vida sem o 25 de Abril"
O general Vasco Gon�alves morreu ontem no Algarve, aos 83 anos. Em 1975 simbolizou o radicalismo da revolu��o de Abril
armando rafael
pedro correia
Arquivo DN
pol�mico. O 'companheiro Vasco' suscitou �dios e paix�es em 1975
A sua �ltima apari��o numa cerim�nia institucional foi ao lado de M�rio Soares, de quem foi advers�rio pol�tico
Almada, 18 de Agosto de 1975. Perante uma plateia inflamada que o interrompe e o aplaude a cada instante, o primeiro-ministro do V Governo Provis�rio, em mangas de camisa, entusiasma-se e radicaliza o seu discurso, enquanto tira e p�e os �culos, numa interpreta��o c�nica que acabaria por assustar a maioria dos portugueses.
Mas quem estava presente em Almada, para mais uma manifesta��o de apoio � crescente radicaliza��o do Processo Revolucion�rio em Curso (Prec), como ent�o se dizia, deixou-se contagiar pelo ambiente, gritando, cada vez mais alto, For�a, for�a/Companheiro Vasco/N�s seremos/A muralha de a�o.
A for�a destas imagens entraria para a Hist�ria, marcando Vasco Gon�alves, que morreu ontem, aos 83 anos, v�tima, aparentemente, de uma s�ncope card�aca, quando nadava numa piscina no Algarve.
No com�cio de Almada nasceu tamb�m o mito do gon�alvismo, s�mbolo de todos os radicalismos que envolveram os militares do Movimento das For�as Armadas (MFA), levando ao afastamento gradual de alguns protagonistas do 25 de Abril. Como o general Ant�nio de Sp�nola, que viria a renunciar � Presid�ncia da Rep�blica em Setembro de 1974, mostrando a sua impot�ncia para deter a marcha da revolu��o e, sobretudo, da descoloniza��o dos territ�rios africanos.
Nessa altura, j� Vasco Gon�alves era primeiro-ministro, tendo sucedido a Palma Carlos.
Nascido em 1921, Vasco dos Santos Gon�alves era filho de um salazarista que chegou a jogar futebol no Benfica, tendo mesmo participado num dos primeiros confrontos entre Portugal e a Espanha antes de se dedicar a uma pequena casa de c�mbios em Lisboa.
Quando morreu, em 1968, j� o filho era tenente-coronel, oriundo da Academia Militar e da arma de Engenharia, e tinha passado pela �ndia e pela guerra colonial em Mo�ambique. Promovido a coronel em 1971, quando se encontrava em Angola, Vasco Gon�alves acabaria por ser o mais graduado dos militares que estiveram na origem do MFA.
Para atr�s ficara a sua participa��o num ensaio de insurrei��o militar que chegou a estar prevista para 12 de Mar�o de 1959.
Membro da comiss�o que ajudou a escrever o Programa do MFA e da Comiss�o Coordenadora do movimento j� depois da revolu��o, Vasco Gon�alves integrou o Conselho de Estado antes de ser indigitado como primeiro-ministro em Julho de 1974. Colocado � frente de um governo provis�rio que inclu�a muitos militares, alguns independentes e v�rios dirigentes do PS, PCP e PPD, foi um dos grandes respons�veis pelas nacionaliza��es decretadas em Mar�o de 1975, incentivando as ocupa��es de terras, antes de decretar a reforma agr�ria.
A partir da�, Vasco Gon�alves, o PCP e a extrema-esquerda ficavam com o caminho livre para impulsionar o processo revolucion�rio, apoiando-se no movimento sindical e incentivando todas as reivindica��es populares. A radicaliza��o ent�o verificada e a progressiva identifica��o de Vasco Gon�alves com o PCP - for�a minorit�ria em Portugal, como ficou bem patente nas primeiras elei��es livres, realizadas em Abril de 1975 - conduziram a uma clivagem nas For�as Armadas, com a vit�ria da linha moderada.
O Ver�o termina com Vasco Gon�alves fora do Governo, dias depois do discurso de Almada.
Vasco Gon�alves n�o voltaria a exercer outras fun��es pol�ticas, continuando, no entanto, a ser lembrado como um �cone de uma certa revolu��o. Continuou a desfilar na Avenida da Liberdade a cada celebra��o do 25 de Abril e a saudar os sindicalistas da CGTP nas comemora��es do 1.� de Maio.
Nas raras entrevistas que foi dando, mostrou-se sempre fiel aos seus ideais. "N�o imagino o que seria a minha vida se n�o tivesse participado no 25 de Abril", diria a Maria Manuela Cruzeiro, no livro-entrevista Um General na Revolu��o.
A sua �ltima apari��o p�blica, numa cerim�nia institucional, decorreu a 25 de Abril de 2004, quando regressou � resid�ncia oficial de S�o Bento, a convite do ent�o primeiro-ministro Dur�o Barroso, para assistir � inaugura��o de uma galeria de ex-chefes de Governo onde se encontra o seu retrato. Nessa altura, Dur�o e Vasco trocaram palavras am�veis, o que seria impens�vel anos antes.
Por ironia do destino, nas imagens recolhidas nesse dia, o "companheiro Vasco" figurou ao lado do maior dos seus advers�rios pol�ticos M�rio Soares, que o enfrentou com sucesso e apressou a sua queda no Ver�o mais quente de que h� mem�ria em Portugal.
Agencia Asturiana Informal de Noticias
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