fantasmas
Bateram à porta ─não abriste Estavas a convocar nesse instante a blancura Dos dados por lançar e o corvo do sr. poe mais O maléfico negrume dos mares de melville e Os passos em redor do andarilho etíope e As mulheres da patagónia que estão sentadas Ao fim da tarde À beira de insondáveis glaciares Seguias absorto o percurso daquele que comprava Revistas tabaco souvenirs e via os comboios Sumirme-se na gare de munique −mais a rua onde Te encontro e te perco −rapaz A quem se esqueceram de dizer que tinha um corpo De papel bom para amachucar com os dentes É verdade −bateram à porta Mas não podias abrir Nesta casa só sobrevive a memoria turva Dos poemas amados −mais ningém mais nada Além da parede de lodo e de caixa de sapatos Cheia de sílabas preciosas −e uma mesa pequena Com um albatros empalhado para te vigiar a alma A um canto da sala o cigarro continua a arder Na ponta dos dedos do teu retrato escondido Atrás do sofá –virado para a parede Como tu Coberto de bolor de sustos e de aborrecimento Fantasmas de Al Berto no livro HORTO DE INCÊNDIO publicado por Assírio&Alvim. Lisboa 2000 |
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