martes, noviembre 30, 2004

Un poema de Al Berto



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sabes, as aves aquáticas já não pernoitam junto ao mar nem por entre
nossos dedos de areia
sobem-me vozes calcárias à garganta, estrangulo-me neste humilde canto,
fico atento ao eterno silêncio do teu castelo


às vezes escuto teu cantar, raramente, é certo… mas quando cantas saem-
-te nomes puros da boca e sorrisos diáfanos de cristais
os lábios incendeiam-se com vinho, teu corpo adquire osabor misterioso
das algas
no crepúsculo expande-se o perfume a moreia frita, teu olhar é o mosto
dos nossos desejos


dançamos à roda dum mastro, saia em papel de seda bordada com
búzios… uma cuadra flutua pela noite de nossos cabelos
rodopias, e os teus amores são relembrados pela noite adiante
espalham-se estrelas candentes, papoulas breves, junco molhado
e o mar enche-se novamente de pássaros, embarcações semelhantes a
beijos que nos percorrem de alegria.

De Mar-de-leva
Wordsong. Al Berto
101 noites. Lisboa 2002